Qual o valor real das coisas que são importantes pra gente? Você concorda que preço é uma coisa e valor é outra? Sete reais para uma água mineral no aeroporto é caro. E no deserto depois de horas embaixo de sol, ainda continua caro? Quais são as coisas que, para você, não importa o preço de tão valiosas que elas são?
Tenho TV a cabo em casa por um único motivo: assistir quatro canais focados em cozinha por horas. Tem gente que vê novela, jornal, futebol, documentários, séries, filmes. Eu assisto por programas culinários. Sou fã incondicional de alguns chefs e cozinheiros, do tipo fã de carteirinha, de seguir na rede social, de mandar mensagem em lives, de comprar livro, de acompanhar a vida pessoal. Fã daquele tipo que vibra com a felicidade do ídolo e se sente parte da família dele, sabe como?
Rita Lobo serviu de referência para estruturar a VidacomFarinha, a Cozinha Bendito e a Bendito Papá. Quem é quem, qual a ordem de nascimento, o papel de cada uma das marcas, o que faz, o tom. Até onde vai, se é produto, se é plataforma.
O Edu Guedes me apresentou uma cozinha simples, democrática e possível. A Cidinha, parceira do Edu, me ensinou a fritar. Ela é chamada de Dona Friturinha, de tanto que ama empanar as coisas. Pra mim, ela é a Dona Lindinha, isso sim!
Do programa Bizu, do Foodnetwork, tirei a paleta de cores da minha nova vida. Se você me perguntar como será o meu espaço (o Espaço Farinho – projeto futuro que um dia eu conto em detalhes) eu fecho os olhos e enxergo o Bizu. Laranja, alegre, verde de temperos, cinza do inox, preto do quadro negro riscado em giz.
Mas se você me perguntar quem eu mais amo e com quem eu gostaria de jantar, eu digo com a cara mais faceira do mundo: Claude Troisgros. E sabe por que? Porque ele é generoso e deu voz e vez ao Batista, porque ele é carismático, é professor, é paciente, otimista, é engraçado e deve ser um ótimo chef.
Estive recentemente no Rio de Janeiro para um curso e numa folga fui até ao shopping mais próximo. Era pra ser um pulinho rápido, do tipo “Vou ali e já volto”, só que não voltei.
Passeando pelos corredores enxerguei o Claude sentado num restaurante; o restaurante dele. O coração bateu forte, o peito esquentou. Mudei o rumo, retoquei o batom vermelho, e fui em direção a ele.
A recepcionista do restaurante me viu parada ali em frente e perguntou se desejava uma mesa para almoçar. Não havia mesa disponível e ela me convidou a sentar num sofá fofo, vermelho, cuja imagem imediata era a do Claude, logo ali adiante. Fiquei namorando e tirei fotinho!
Em 5 minutos vagou mesa e ela me disse “você terá a honra de sentar ao lado do Chef”. Cuma? Não era ao lado, era de frente! Jonathan – o garçom – me entregou o cardápio e eu não tive dúvidas, era a deixa para fazer amizade com o ídolo.
Chef, me desculpa interromper. Gostaria de uma sugestão sua para meu almoço. (Naquele momento eu acabava de ficar com fome novamente). Ele perguntou se era minha primeira vez no restaurante. “Sim!” Sugeriu um risoto de camarão acompanhado de vinho branco. Eu aceitei. Apenas sinalizei para Jonathan – o garçon – que seria apenas meio risoto, uma vez que a mocinha do outro lado já tinha cantado a bola sobre a generosidade da porção.
Continuamos conversando, ele perguntou de onde eu era, eu pedi pra segurar na mão dele. Contei da VidacomFarinha, mostrei minha tatoo (que vergonha de mim!). Eu parecia uma criança na Disney. Falei, falei e ele ouvindo, sorrindo. Disse que ele me inspirava, que era uma honra conhecê-lo e parei de falar pensando no bom senso. Mas quando o prato chegou, precisei interrompê-lo novamente e pedi para tirar uma foto com meu mais novo amigo de infância e sua obra!
A primeira garfada. Não sei explicar todos os sentidos que foram ativados naquele segundo. Simplesmente o melhor sabor e conjunto perfeito de ingredientes da minha vida! Tinha uma emulsão em cima do risoto, o azeite era trufado, apareceu uma pupunha e 4 lindos e generosos camarões. Se fosse pra morrer comendo, eu estava pronta. Sim… ele é um chef incrível, naquele instante eu confirmei isso.
Ofereceram-me sobremesa, neguei. Café. Neguei. Eu não tinha ideia do valor da conta, como é que ainda iria correr o risco de aumentar o rombo? Tinha visto mais ou menos os valores dos pratos e okay. Mas o vinho eu não sabia o preço! Por sorte, o Chef foi bonzinho comigo e recomendou um de preço acessível. Levei 1/3 da garrafa pra casa embalada na sacolinha personalizada do restaurante! E é claro que guardei a sacola, né?
Quanto custou o susto, a emoção, segurar na mão dele, contar sobre a VidacomFarinha, comer o prato mais espetacular do meu novo paladar, ficar sentada de frente a ele por 40 min, ouvi-lo conversar com seu amigo sobre o restaurante do Leblon, sobre o Batista? Foi exatamente o valor de:
- Uma calça jeans na Zara, ou
- Uma sapatilha na promoção da Arezzo, ou
- Passaporte para 1 pessoa no Beto Carrero, ou
- Diária de faxineira em Joinville/SC, ou
- 10 dias marmita no centro da cidade sem suco.
Barato ou caro?
O que vivi naquele momento não tem preço. Não tem como mensurar o valor de realizar sonho. Possivelmente para alguns eu tenha feito uma loucura, gasto um absurdo. Imagina… com o valor dessa conta a gente pode almoçar por 10 dias! Pois, olha… eu ficaria 10 dias sem almoço!
Um beijo!